quarta-feira, 28 de novembro de 2012

Quietude


Continuo a caminhada assim... Atônita? Alienada? Inerte?
Talvez sim; talvez não...
Sigo sem olhar o relógio, mas vendo passar o tempo.
O ontem não sequestrou meus sonhos...
O hoje me permite olhar o infinito sem perguntas.
Não espero que o amanhã seja meu porto seguro.
Para tudo há um tempo e todo ele merece ser bem vivido.
Por isso atravesso em paz esse 'meu tempo' de mudança radical.
Passou a era dos questionamentos, da incerteza, da culpa e do medo.
Ah! Eu não estou deixando a vida me levar. Aproveito esse intervalo, comprando tintas para colorir minha vida e deixar muitos respingos de cores e perfumes por onde eu passar.
Até lá...
                                                                                 Iolanda Marques

segunda-feira, 12 de novembro de 2012

Metamorfose



A cada dia vou me despindo um pouco...
Vou deixando pela estrada minhas cascas,
e ficando mais leve a cada etapa do caminho.
Como roupas velhas que não me servem mais
desvisto desilusões, mágoas, amarguras,

Sigo me descascando,
me desnudando a cada passo...
Quero chegar ao fim da jornada
com a leveza de um pássaro,
a delicadeza de um beija flor,
com a sutileza de uma borboleta
abandonando o casulo,
quero minh'alma leve ,
só terá espaço para sentimentos que sublimam
porque desta vida só vou levar o amor
que doei e recebi.

quinta-feira, 1 de novembro de 2012

Morreu de confusão - Carta de um suicida


Ilmo. Sr. Delegado de Polícia:

Não culpe ninguém pela minha morte. Deixei esta vida porque, um dia mais que eu vivesse, acabaria morrendo louco. Explico-lhe, Sr. Delegado: tive a desdita de casar-me com uma viúva, a qual tinha uma filha. Se eu soubesse disso, jamais teria me casado.
Meu pai, para maior desgraça, era viúvo, e quis a fatalidade que ele se enamorasse e casasse com a filha de minha mulher. Resultou daí que minha mulher tornou-se sogra de meu pai. Minha enteada ficou sendo minha mãe, e meu pai era, ao mesmo tempo, meu genro. Após algum tempo, minha filha trouxe ao mundo um menino, que veio a ser meu irmão, porém neto de minha mulher, de maneira que fiquei sendo avô de meu irmão. Com o decorrer do tempo, minha mulher também deu à luz um menino que, como irmão de minha mãe, era cunhado de meu pai e tio de seu filho, passando minha mulher a ser nora de sua própria filha.
Eu, Sr. Delegado, fiquei sendo pai de minha mãe, tornando-me irmão de meu pai e de meus filhos, e minha mulher ficou sendo minha avó, já que é mãe de minha mãe. Assim, acabei sendo avô de mim mesmo.
Portanto, Sr. Delegado, antes que a coisa se complique mais, resolvi desertar deste mundo.
Perdão, Sr. Delegado.